segunda-feira, 11 de maio de 2009

cen'átimos

Sou mensageiro. Corpo-Cavalo. Mero receptor. Antena.

Agora que não sou eu e que sou eus. Sou muitos. Falo através de Exu.

Sou Euluilyos voando nas asas do Corvo. Corvo sustentado por espectros. Sim, os espectros lhe ofertam as penas e asas. Debruçado sobre estes, vejo-os exibindo toda a sua força. De onde vêm? O negro pássaro absorve todo o Sol-Luz, que vem de lá do grito-berrado da selva afro-índia. Sim, Sol Leão que emite luz-branca para o negro Corvo que voa agraciado pelos fantasmas e iluminado por tanta Luz emitida.


Quero escrever Cenas, retiradas de sua temporalidade e lançadas ao infinito. Tendem ao infinito. Ocorrem em um átimo. O que é um átimo?


Algo que se desenrola em um espaço curto, curtíssimo de tempo. Espaço que não pode ser percebido, senão pela sensação dos gestos, pois quando é, já foi. Tempo ínfimo de ação no espaço. Espaço x Tempo. Um átimo nada quer dizer. Porque não conseguimos precisar sua duração. Onde começa ou onde termina. Assim é minha fala, não há início nem fim. Portanto, é infinita. Infinitos são o espaço e o tempo.


Enquanto houver transe, eu falo.

Transe-Transa.

Enquanto o batuque não cessar eu não me calo.

Canto resplandecente.

No futuro e no passado: dimensões do presente.

Olhe no espelho. Verá o que quer. Sabe por quê?

Tudo está dentro de você. A resposta é carregada pelo pranto sorridente do teu corpo.

Tudo é agora e ocorre agora.

Tudo é paralelo a tudo.

Para que pressa?

O transe é o irracional que é racional. Extensão do real.

No átimo ocorre a torção.

O fronteiriço se dissolve em transformação.

Não há espaço, nem tempo.

É a transformação plena.


– torção –


Corpo do cavalo afetado por eus. Eus que afetam em contínuo movimento. Deixe-se infestar por fantasmas. Deixe que eles falem na torção. Todos podem escrever cen’átimos: é só deixar a força interna entrar em erupção. É só deixar o vento arejar o Ocidente.

Ir-Romper os poros da epiderme.

A sedução pelo mistério.

Mistério advém do misticismo. Deixe-se levar pelo transe. Dance. Ouça a voz que não consegue personificar.

Somos individualmente coletivos. Somos canibais que devoram a carne alheia. Somos plagiadores seduzidos pelas vozes fantasmagóricas. Gostamos daquilo que é mais desafiador porque não podemos sê-lo... selo na carta sem envio, endereçada ao nosso herói que jamais a receberá. Coragem jamais teremos para pô-la no correio.

Não procure assinatura nem nome. É um esforço desnecessário.

Eu-Sol-Eus que somos vocês todos nesse espaço-tempo, sem espaço-tempo. Nesse lugar que se verga na torção revolucionária das cenas em um átimo.


Estou cansado. Cante pr’eu subir. O corpo se põe a chorar e a rir e a chorar.

Olhe no espelho, verá a mim e a todos os demais. Verá o que palpita no âmago de suas entranhas.


Leão-sol-amarelo sou. Emissor de luz branca – sol. Negro pássaro sou. Absorvo a luz emitida pelo devorador felino. Trago comigo a torção impetuosa das revoluções.

Vôo subir. Abre a roda. Cante e batuque.


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