sexta-feira, 10 de outubro de 2008

a antropofagia – perspectivas

Experimentar o outro... ser o outro por um cenátimo... não dizer ou perguntar quem é o outro
- experimentá-lo –

aí mora o perigo e viver, lembra Riobaldo, é perigoso. Se vivermos os outros pensamentos, outros "locus de enunciação", como diria Walter Minolo, nos libertamos dos enlaçes do pensamento colonizador. Aí devoramos as Europas, os Brasis, os Índios e as Áfricas...
num giro
– ou numa gira de santo –
nos tornamos ameríndios, iorubás, negros mina, caboclos.
Recebemos os guias dos donos da terra.
Somos o caboclo tal e escrevemos com os caboclos, xamãs, ancestrais africanos, com os animais, com meu tio Iuaretê
– vida antropofágica ou devorações -
Composições deglutidas e digeridas. Conforme nos abrimos às afetações do mundo, aumentamos o risco. Maior o perigo, maiores os acidentes - dimensão incidental e insólita da vida. Não estaremos mais à salvo, fazendo o mesmo, aquilo que estamos acostumados a fazer, nosso hábitos reativos - reflexos tidos como instintivos.
O que são esses instintos? Quem determina o que é instintivo e instrínseco à nossa natureza humana e o que é adquirido pelo processo de socialização numa cultura? Talvez não importe. Tudo é artificial, recriado pelo homem em sua relação com o mundo - ação da natureza, logo do homem. Devorações de isso e aquilo, tudo ao mesmo tempo - sincronia. Economias e gastos desperdiçados.
"De seu lugar de espreita, o guerrilheiro aguarda o momento oportuno", são as palavras de Che Guevara. Que momento oportuno é esse? O de saltar nos confins do mundo, se pôr para fora, sair de si. Reintegrar-se ao mundo imbuído de forças e potências. Daí, conduzi-las com uma ação ética - gerar compaixão e ternura. Por mais que o guerrilheiro crie uma economia da sobrevivência, está aberto ao dispêndio de sua vida, aos perigos insólitos. Devorar e delira com rigor, isto é, dentro dos "locus de enunciação" que elegeu para sua luta.

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